terça-feira, 9 de abril de 2013

A morte e a transfiguração de um anjo: pequenas notas sobre quando a canção ajuda.

I
Lorenzo laureado
Laurentius
               de Florença
   à latina Londrina.

Cacione
                               e Arcangelo
Leo leonado              
                       e Thais
     Astronave de Papel.

Receberam um anjo
                    (um elo além da alma)
que espalhou luz
           na vida de todos nós.

Mas uma coisa é certa --- a morte

é quem afirma a sorte.

A dádiva
a duvida
devida.


II
Desde ontem um disco do Otto não me sai da cabeça: 

Algumas coisas nos forçam a suspender projetos, prazos...

Esta noite acordei assim, 
          parecendo um inseto virado de barriga pra cima.
                                      Acontece que ontem, após uma festa regada em boa musica, 
                   recebi a trágica noticia sobre o falecimento do nosso tão amado Lorenzo. 
(Amor: um querer ver crescer, uma rede para a eternidade... 
                sim, eu por diversas vezes o imaginei já homem, ao lado dos meus filhos...). 
(Trágico: como meu amigo Caetano me ensinou: do grego tragos; 
                o berro do bode; o sacrifício da vida).


...
                          Hoje pela manhã, 
                                                     indo para o Parque das Oliveiras, 
lembrando que não faz muito tempo
                                                          eu estava ali para me despedir da Carisa 
– outra amiga muito amada. 
         (Naquela ocasião, durante o cortejo, eu não parava de pensar na canção “Lágrimas Negras”.)

“belezas são coisas acesas por dentro
tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento”
...

Um pouco antes de chegar, encontrei a Gisele.

“forte como aço
meu abraço”

(hoje, cada micro-espaço dessa canção
significou algo marcante)


Ela me disse da saudade, do matutino choro solitário, da noite de sonhos. Da Thais.
                                                                (o Binho disse: "...é, agora é cuidar da nossa amiga, meu irmão!")

"Saudade quero ver pra crer
Saudade de te encontrar
na vida tudo pode acontecer
partir e nunca mais voltar..."


Mas é mesmo como o Otto diz, “não existe armadura contra o sofrimento”. 
                                                                |A pele é crua.|

Seu disco, inclusive, foi forjado em um intenso contexto de perdas 
                              (seu relacionamento afetivo, sua estabilidade profissional, 
e a morte de sua mãe e de uma afilhada da 2 anos – então idade de sua filha).

...
...

“Por entre flores e estrelas
você usa uma delas com brinco
pendurado na orelha”

É difícil não imaginar que ali é um filho seu. 
    Difícil é suportar essa tao imagem.
          Então, celebramos a dor chorando em coro. 
               Ela, a dor, nos une e revela a vida. 
                                                                                 (Qual pai e qual mãe ali presente
                                                                     depois não olhou para seu(s) filho(s)
                                                        e sentiu o peito completamente tomado?)


“Há sempre um lado que pesa e um
outro lado que flutua a tua pele
é crua...”


                                   Lorenzo ensinando o Otto (meu filho) como brincar carnaval.



João de Carvalho
08/04/2013




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