terça-feira, 15 de outubro de 2013

Novo single de Criolo, "Duas de Cinco".

João de Carvalho


Acabam de ser lançadas duas canções do novo single do Criolo, intitulado "Duas de Cinco". O site de vendas do disco - vinil - é fruto de um trabalho muito integrado entre produtores e artistas, e apresenta uma ótima saída para a crise no formato de distribuição da música em tempos de facebook e youtube.

É o seguinte, lançar um CD hoje já se configurou como um gasto desnescessário, segurar a informação produzida, não liberando para uso comum, é quase antiético. Então, o que o artista pode vender?

Faz algum tempo que gravar é uma forma de vender shows, e não propriamente lucrar com a venda de discos. Mas ao mesmo tempo que presenciamos essa revolução via internet vemos surgir, como uma contramaré, o retorno do vinil. Melhor qualidade de som (os formatos divulgados na internet são todos compactados) e relação tátil com a obra material são os principais benefícios deste formato. Não devemos nos esquecer, todavia, que o produto de que estamos tratando é um disco de rap, linhagem poética que tem no DJ - o tocador de disco - a figura do maestro, senhor dos sons e do batuque no hip hop.

Bem, mas o "Duas de Cinco" não é um LP, e isso é um dado muito importante! Vivemos em um mundo onde a quantidade de informação satura nossos olhos e ouvidos. Tomar cuidado com a informação que se produz é um ato de respeito para com a qualidade de vida de nosso semelhante, no caso da relação com a música, lançar um single é muito mais do que uma moda retrô, é um respeito com o público.

E, devo dizer, as duas faixas que foram liberadas são coisas finíssimas!!!

A lírica de Criolo pega mais fundo na ferida, dessa vez dissecando ainda mais temas como o tráfico e o consumo de drogas, lícitas e ilícitas, a marginalização e a solidão humana mais profunda. Os versos "É o Kinect do XBox/ Por duas bucha de cinco", que dá nome para a canção, para o single e para o belíssimo Lyric Vídeo, dá bem a idéia geral do que podemos esperar do single. Criolo, MC pra calá a boca de quem duvidô (na bôa, enche o saco ficar dizendo que ele não é "só um MC", e sim um grande cantor, como se voz tivesse que honrar uma dívida para com a melodia... ou dizer que ele amaciou para agradar a classe média... ), canta como um indivíduo dilacerado pela dor de seus semelhantes.

Para finalizar, fiquem com a produção audio visual do projeto - vale ressaltar, um vídeo fantástico com recursos modestos, perfeito para uma comunicação mais sinestésica como a que o youtube nos proporciona.


Essa canção reaproveita o refrão de "Califórnia Azul", de Rodrigo Campos (que canção!!!). Intertextualidade o tempo todo, pois a vida é assim mesmo, se repete, se atualiza, se intercambia... só assim não morre quando azeda.






Ps.: quando eu comecei a escrever este post o vídeo da canção tinha menos de 300 visualizações, quando eu terminei havia mais de 11.176...
Ps.2.: fui rápido, mas o povo não dorme... rss... (entrevista de divulgação da canções)

Um comentário:

  1. Voltando ao debate das biografias (post anterior), olha o reporter querendo colocar a saia justa do Caetano no Criolo... "Repórter: Mas a respeito do Procure Saber... Criolo: Mas por que você quer saber isso de mim? Repórter: Porque você é um artista em atuação e um dia alguém pode ter o interesse em contar a sua história em um livro." ... rss... é claro que não é por isso, e sim pq a Paula Lavigne é a produtora dos dois DVD's do Criolo!!!

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