segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Um papo com Siba

João de Carvalho

"... não existe vida sem a morte."

No dia 26 de outubro tive a oportunidade de fazer uma pequena entrevista com o Siba, em sua passagem por Londrina. Foi a primeira vez que me atrevi a "entrevistar" alguém, então não esperem um desempenho lá grandes coisas. Assistindo ao vídeo que fizemos, percebi que minha ansiedade em comunicar um monte de ideias, somado ao fato do natural constrangimento frente à câmera (e ao Siba), e o angustiante grave que vinha da passagem de som, me deixaram cômico. Mas blz. Eu supero.

Devo agradecer à Patrícia Zanin (da rádio UEL FM) por ter agendado nosso papo. No dia do show, mais precisamente durante a passagem de som no teatro, Siba concedeu uma série de entrevistas. Foram 3 antes de nos atender, e em cada uma ele foi deixando a marca de seu raciocínio claro e profundo. Nestes papos que precederam nosso papo, Siba esclareceu sua relação com a cultura popular, dizendo-se ((com as minhas palavras)) muito mais um agraciado do que um agraciador. Ainda deu uma aula sobre suas referências de guitarra, de Hendrix a Franco (guitarrista congolês), e esclareceu o que é turnê e o que são shows estratégicos de ampliação de público, passando na prova dos nove da humildade.

"... a não ser nessa vidinha, classe média, confortável, que a gente leva achando que tá livre de tudo, quando na verdade, ela tá aí, ó, a morte tá sempre presente mesmo sem a gente ver, acho essa consciência muito importante..."

E para quem está chegando por agora no repertório desse pernambucano (seja bem vind@! ), eu recomendo assistir ao teaser do documentário Nos Balés da Tormenta. Tem também o Fuloresta do Samba, que é de lei. Seria legal também ler o texto que o próprio Siba redigiu apresentando o novo trabalho. Vale a pena fazer isso, mas dá pra continuar lendo... ;)

Enfim, chegou a hora do nosso papo. Eu tentei fazer algumas perguntas, todas meio confusas, talvez você tenha que assistir mais de uma vez pra entender o que eu estava pensando, e não é culpa sua... mas, é o que tem pra hj. O Siba foi super compreensivo e deu umas respostas massas pra caramba! Por isso vale assistir ao vídeo, pois entramos em alguns assuntos que normalmente não podemos desenvolver em conversas rápidas. Neste vídeo-documento você pode conferir Siba tecendo algumas reflexões sobre a vida e a morte, sobre o sagrado, sobre o artesanato cancional, sobre muita coisa... 

E ao fim do vídeo vocês podem conferir meu momento fã. Tomei coragem e toquei a versão que fiz de Qasida. Uma singela homenagem que tem muito a ver com o rumo que as perguntas tomaram. De fato, muito da interpretação que tenho sobre a obra do Siba está relacionada com um projeção que faço, amplamente apoiada no repertório que montei para dar aula de História da Canção (que ministrei este ano no Festival de Música de Londrina).


vídeo entrevista


Clicaqui, e assista agora o vídeo que o Mioto fez especialmente para nosso blog! Valeu mesmo, meu mano! E valeu também ao Alexandre Ficagna e ao Fagner Bruno, respectivamente pelo som e câmera... todo mundo com a mais pura camaradagem! Massa mesmo, gente!

A verdade é que fiquei com vontade de proseá muito mais... Faltou refinar mais sobre como Siba fez a aproximação com a música congolesa e afegã, por exemplo. Algumas das coisas que percebo como paralelo com a música árabe - de um modo bem geral - é a utilização de longas seções instrumentais, as mudanças de andamento e o uso de compassos com métrica alternada. E, como paralelo com a música do congo, eu poderia lembrar da utilização da marimba (ele mesmo disse em algum lugar, a marimba entraria na banda para remeter ao som da Kalimba) - Mulatu Atatke toca marimba - e do uso constante da dobra de sexta nos solos de guitarra (no começo eu achava que isto se remetia mais à uma inversão das terças caipiras das violas) e do suingue sincopado dos acordes nas cordas mais agudas. Gostaria de perguntar também, sobre como foi o processo de busca pela sonoridade do disco, a utilização de tuba e marimba em meio às guitarras dele e de Catatau. Mas, tudo isso fica pra próxima... ou eu organizo melhor e faço por e-mail... mas tá, isso é outro papo.

Espero que tenham gostado.
Até!

ps.: tem um vídeo que eu recomendo...


Este vídeo é muito legal, e apresenta cenas do ensaio da banda que veio à Londrina. Serve como amostra do show que vem sofrendo mutações desde seu nascimento. Lembro que eu me toquei do tamanho da delicadeza de Bravura e Brilho durante o show... percebam - aos 5'24" do vídeo acima - que contraponto mais inusitado que o teclado e o assovio fazem com a melodia da voz (isso junto com toda a textura que muda e fica mais em staccatto)... este timbre de assovio, a sonoridade desta seção, tem uma espessura robusta, grávida de significados! Com todo respeito, precisa de muita cera nos ouvidos para não escutar uma referência ao universo infantil nesta passagem.

Agora acabou mesmo.

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