terça-feira, 5 de maio de 2015

Pé de Guerra no Paraná: pra parar de cantar Vandré

João de Carvalho



O mote principal que uniu os professores em Curitiba foi o roubo da previdência efetuado por Beto Richa. Este, utilizando-se da violência de seus capitães do mato, empurrou goela abaixo o tal pacote da maldade. Os professores, e demais servidores do estado, perderam uma importante batalha. Os estudantes, já atuais ou futuros professores, também perderam. O que resta agora? Voltar às aulas? Fazer uma greve de 3 dias e depois voltar para os confortos que ainda nos restam? Batalhar pela pauta que ainda permanece em aberto, flexibilizando um pouco mais, talvez, pois já sentimos que seremos os mais prejudicados, com o ônus das reposições e dos descontos... afinal, né?

Bem, amigos, estamos em uma encruzilhada. 
E não estamos tão unidos como gostaríamos de estar.
Muitos entraram neste movimento por um motivo justo, porém ainda muito pequeno. Se formos pensar que o que está em questão é apenas o bote do crocodilo na previdência, estamos quase no fim do estado de greve, saímos machucados, mas vivos. ... demos aula de cidadania! ui...

Por mais que os abusos tenham nos chocado, o que aconteceu já estava previsto para acontecer. Não precisa ler Tarot, e é claro que é mais fácil de dizer agora, mas sim, dava pra prever. Mesmo que não tivéssemos acesso às recomendações que o Ministério Público fez ao governador Beto Richa, onde se antevia uma tragédia, poderíamos sim perceber o que estava para acontecer. Em essência, a violência que sangrou os professores, servidores e alunos em Curitiba foi a mesma que tirou a vida do garoto Eduardo, de 10 anos, morto na porta de sua casa (empunhando um caderno) no Complexo do Alemão. 

Creio que quem escutou com atenção a décima faixa do novo disco dos Racionais MC's, o Cores e Valores, não se surpreendeu (revolta sim, surpresa não) com o circo armado pelo tirano do Paraná. A canção se chama "A Praça", e narra a tragédia ocorrida em 2006 em um show dos Racionais MC's, na Praça da Sé, em São Paulo. Escutem! Como a canção é curta, recomendo dar o play duas vezes, com som apropriado, uma escuta de olhos fechados e outra acompanhando a letra, que posto em seguida...




A Praça

"Madrugada de domingo em São Paulo... "
"O show da virada cultural terminou em meio a uma gigantesca confusão
Foi a apresentação do grupo de rap Racionais Mc's"
"Racionais... "
"Racionais Mc's... "
"Foi na praça a Sé, uma verdadeira praça de guerra... "
"Bombas de efeito moral e balas de borracha... "
"Desesperadas as pessoas tentavam fugir do confronto"
"Vem pra cá... Vem pra cá"
"quer dizer, a polícia não poderia ter evitado? "
"até que ponto o uso de bala de borracha e gás lacrimogênio não acaba aumentando a confusão? "
"Tem que pensar com inteligência. O cara tem que ter inteligência, certo?
Essa correria ai de um lado pro outro só vai machucas as pessoas"

Uma faísca, uma fagulha, uma alma insegura
Uma arma na cintura, o sangue na moldura
Uma farda, uma armadura, um disfarce, uma ditadura
Um gás lacrimogênio e algema não é a cura, é luxuria.
Uma censura, tentaram e desistiram
Pularam atrás da porta, filmaram e assistiram
Pediram o nosso fim, forjaram uma lei pra mim
Tiraram o nosso foco dos bloco e o estopim
Tentaram eliminar, pensaram em manipular

Tentaram, não bloquearam a força da África
Chamaram a Força Tática, Choque a Cavalaria
Polícia despreparada, violência em demasia!
Mississípi em chamas, sou fogo na Babilônia
Tragédia, vida real com a mão de um animal
Brutal com os inocentes, crianças, velhos, presentes
Ação inconsequente, covarde e desleal
Os moleque com pedra e pau
Polícia com fuzil, bomba, carro pegando fogo

Porta de aço, tomba, a mãe que chama o filho
Enquanto toma um tiro, alguém perdeu alguém
A alma no gatilho, fugir para o metrô
Tumulto no corredor, pisotearam alguém
Que ali mesmo ficou nas ruas adjacentes
A cena era presente, destruição e guerra
O mundo que desabou, ho!

"05h30 da manhã e a polícia ainda encontrava dificuldade pra controlar a multidão"
"Não há mais nada o que fazer na Praça da Sé"
"A praça a Sé parece nesse momento uma praça de guerra. Muito vidro quebrado pelo chão e lixo espalhado por todo lado"
"11 pessoas foram presas e quatro ficaram feridas"
"A prefeitura vai assumir todas as suas responsabilidades... E dará todo apoio necessário às pessoas que, eventualmente, tiveram algum dano relacionado ao incidente"
"Os Racionais... "

Exemplos como este que a canção retrata nos dão uma medida de como funciona a fera que o estado alimenta pra lhe proteger. Mas claro, isso foi em 2006, ainda não havia ocorrido as passeatas de 2013, não havia ocorrido nem a copa nem as eleições. O clima agora está cada vez mais quente, e isso quer dizer também que os cães do estado estão com fome. Temos que estar atentos e não sermos presa fácil. Felizmente ninguém morreu no massacre, apesar de quase 200 feridos (5 traumatismos cranianos) e do pacote aprovado sob a regência de Ademar Traiano do lado de dentro da Alep. Isso, infelizmente, costuma acontecer também. Vocês se lembram do cinegrafista Santiago, não é mesmo? 

Esse movimento começou por causa do pacote de maldades do tirano Beto Richa (que foi eleito para seu segundo mandato num primeiro turno, com esmagadora maioria de aprovação do povo paranaense) tal como as mobilizações de 2013 começaram por 0,20 centavos, mas deve se expandir pelo país como um grito anti autoritário, que pede reformas urgentes e radicais. Em outras palavras, é claro que se não lutarmos contra o atual sistema que regula a mídia no Brasil e não encararmos de frente o debate sobre a desmilitarização da polícia, com certeza nos esperam mais derrotas, e ainda mais sangue pode escorrer na calçada.

Nesse momento, tão importante quanto lembrarmos dos itens da pauta que a APP ainda negocia com o governo, é saber que a polícia, neste exato momento, cerca a Câmara dos Vereadores de Recife para atender aos interesses de grandes construtoras, em mais um confronto anunciado... tomara que não, mas a atenção deve ser a mesma, a comoção deve ser a mesma. Caso contrário, se os professores servidores e estudantes não começarem a se engajar em níveis mais profundos, se preparando realmente para estes momentos de enfrentamento e conquista das ruas e das redes, é sinal de que estamos em uma luta perdida.

À propósito, acho que seria importante também escutarmos um pouco o que MV Bill pensa sobre isso. Essa nem preciso colocar a letra, dá pra entender direitinho:


No fundo, acho que o que eu queria dizer é isso: se nós, professores, continuarmos a cantar em nossas manifestações as canções "Pra não Dizer que Não Falei das Flores" ou "Apesar de Você" (em andamentos mais lentos que as gravações originais, diga-se de passagem), ficaremos sempre presos no passado, nostálgicos, sem conseguir compreender o mundo que nos cerca. Ao contrário, se atualizarmos mais nosso repertório, escutando um pouco mais do que o RAP tem a nos dizer, podemos estar mais preparados para as lutas que nos esperam.











Um comentário:

  1. Esses professores perderam o meu apoio. A lei que eles não querem é justa pois com ela o trabalhador da iniciativa privada que paga o mesmo que o funcionário público param de ter que ver seu dinheiro sendo usado para pagar as poupadas aposentadorias dos mamadores da teta pública. Esses professores do PR tem bons salários e se aposenta ganhando mais de oito mil reiais e quem tem que pagar isso são os trabalhadores de verdade. É sempre assim, o povo sendo parasitado por essa corja do poder público. Até os professores são uns parasitas imorais. E pior que são uns incompetentes inúteis, pois esses professores de escolas pública s só formam analfabetos funcionais aqui nesse país. Só fingem que ensinam mas na verdade passam o dia coçando visto que tem estabilidade e não estão nem aí se seus alunos estão aprendendo ou não

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